Ranicast 20 – Os desafios da adolescência, com Caio Lo Bianco

Quais as principais dificuldades de ser um adolescente hoje? E mais do que isso, as principais dificuldades de lidar com um adolescente?

Para discutirmos sobre esse assunto tão importante, recebemos no Ranicast Caio Lo Bianco, CEO e fundador do maior programa de aprendizagem social e emocional (SEL) do Brasil – LIV (Laboratório Inteligência de Vida), atualmente usado por mais de 500 mil alunos em escolas públicas e privadas. 

Caio é mestre em Educação pela Columbia University, já participou de visitas institucionais a diversas escolas na Finlândia, Peru, Cingapura e Estados Unidos. Ele também dirigiu o maior congresso SEL do Brasil, falando ao lado de palestrantes como Howard Gardner e Edgar Morin.

Janaína começou a discussão com uma pergunta interessante: podemos dizer que a adolescência é uma crise?

Caio deixa claro que estar na adolescência nos dias de hoje não é fácil. Sempre foi desafiador passar pela adolescência, mas o cenário atual, em que a adolescência tem se estendido cada vez mais, acaba por tornar essa passagem mais difícil. Por isso, sim, a adolescência é marcada por um período de crise. 

Então, é preciso entender que é uma fase difícil, para que seja possível ter uma escuta mais empática e permissiva, parando de deslegitimar o sofrimento do adolescente, dando a devida atenção. Precisamos entender que a perspectiva é outra e que aquela situação, para ele, é muito importante. 

As famílias, às vezes, confundem entre estabelecer uma relação de escuta com uma relação com ausência de limites. O Limite é fundamental e precisa ser estabelecido, mas não é uma barreira para uma escuta ativa. E, mais que isso, uma forma de dar lugar para o adolescente é impondo limites, mostrando o que pode e o que não pode. Isso acaba por simplificar e facilitar as escolhas do adolescente, por exemplo. Mas lembre-se, autoridade é diferente de autoritarismo, assim como dar limites é diferente de limitar.

Janaína continua a conversa complementando a fala de Caio, afinal, o adolescente não é uma criança, mas também não é um adulto, que acaba ocupando um lugar difícil de estar.

Segundo cientistas, em um artigo publicado na revista científica Lancet Child & Adolescent Health, a adolescência agora vai até os 24 anos de idade, e não só até os 19.

Mas afinal, quando a adolescência termina?

Caio concorda com Janaína e acrescenta que a adolescência é uma “falta de lugar”. O adolescente não sabe o que é esperado dele enquanto adolescente. Em alguns momentos os pais falam “olha você já não é mais criança”, em outros não dá permissão para passear sozinho com os amigos, por exemplo. Ou seja, é um lugar muito difícil de estar em que constantemente podem se perguntar “eu sou isso ou sou aquilo?”

Sobre o fim da adolescência, Caio acredita que não existe uma idade certa. O que nos torna adultos?.É atingir uma maturidade reprodutiva? É atingir uma estatura média? Os critérios biológicos, sozinhos, não são capazes de determinar a entrada no mundo adulto. Para ele, o que determina são características subjetivas, critérios sociais, simbólicos, culturais, religiosos e, por isso, não conseguimos estabelecer um limite certeiro do fim da adolescência. O ponto importante é que ela deixou de ser um período de transição como antigamente, acabando por agravar a “crise da adolescência”.

“Se eu ainda não tenho uma atitude sobre a vida que me responsabilize por ela, eu ainda sou um adolescente”, diz Caio.

Caio esclarece que a responsabilidade por um adolescente é um papel coletivo, e é papel da escola e da família entender quem é a rede de apoio, ou seja, quem são os adultos que esses adolescentes confiam.

Janaína faz uma pergunta importante: por que um pedido de ajuda pode ser um pedido de reconhecimento do adolescente?

Caio responde que muitas vezes a sociedade foi fechando as oportunidades de fala desse adolescente e, por isso, é importante que a escola seja esse ambiente que abre a possibilidade de fala. E, por termos fechado essas oportunidades de fala, é comum que o adolescente comece a fazer esses pedidos de ajuda por meio de encenações, palavras e falas encenadas. 

Muitas vezes esse pedido de ajuda, lugar e reconhecimento diz “oi, eu estou aqui, me notem”. Então, é importante que nós, enquanto adultos, consigamos ter uma percepção e tentar entender o que ele está querendo dizer com isso. 

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